Março 07 2011

 

 

 

Catequese de Bento XVI sobre São Francisco de Sales

 

Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé (tradução de Leonardo Meira - equipe CN Notícias)

 

Queridos irmãos e irmãs,

 

"Dieu est le Dieu du coeur humain" [Deus é o Deus do coração humano] (Trattato dell’Amore di Dio, I, XV): nessas palavras aparentemente simples, colhemos a marca da espiritualidade de um grande mestre, sobre o qual desejo falar-vos hoje, São Francisco de Sales, Bispo e Doutor da Igreja. Nascido em 1567 em uma região francesa de fronteira, era filho do Senhor de Boisy, antiga e nobre família da Savoia.

 

 Viveu entre dois séculos, o XV e o XVI, trazendo consigo o melhor dos ensinamentos e conquistas culturais do século que findava, reconciliando a herança do humanismo com a inclinação em direção ao absoluto, própria das correntes místicas. A sua formação foi muito acurada; em Paris, fez os estudos superiores, dedicando-se também à teologia, e, na Universidade de Pádua, fez os estudos de jurisprudência, como desejava seu pai, e concluiu-os de modo brilhante, com a láurea em utroque iure em direito canônico e direito civil.

 

Na sua harmoniosa juventude, refletindo sobre o pensamento de Santo Agostinho e São Tomás de Aquino, teve uma crise profunda que o levou a se interrogar sobre a própria salvação eterna e sobre a predestinação de Deus a seu respeito, sofrendo como verdadeiro drama espiritual as principais questões teológicas do seu tempo. Rezava intensamente, mas a dúvida o atormentou de modo tão forte que, por algumas semanas, chegou a ficar quase que completamente sem comer e dormir.

 

No ápice da provação, dirigiu-se à igreja dos Dominicanos, em Paris, abriu o seu coração e rezou assim: "Aconteça o que acontecer, Senhor, tu que tens tudo na tua mão, e cujas vias são justiça e verdade; seja o que for que tu tenhas estabelecido para mim...; tu que és sempre justo juiz e Pai misericordioso, eu te amarei, Senhor [...], te amarei aqui, ó meu Deus, e esperarei sempre na tua misericórdia, e sempre repetirei o teu louvor... Ó, Senhor Jesus, tu serás sempre a minha esperança e a minha salvação na terra dos vivos" (I Proc. Canon., vol I, art 4).

 

 Aos vinte anos, Francisco encontrou a paz na realidade radical e libertadora do amor de Deus: amá-lo sem nunca pedir nada em troca e confiar no amor divino; não questionar mais o que fará Deus comigo: eu o amo simplesmente, independentemente de o quanto me dá ou não me dá. Assim encontrou a paz, e a questão da predestinação – sobre a qual se discutia naquele tempo – resolveu-se, porque ele não buscava mais aquilo que podia ter de Deus; amava-o simplesmente, abandonava-se à Sua bondade. E isso será o segredo da sua vida, que transparecerá na sua obra principal: o Tratado do amor de Deus.

 

Vencendo as resistências do pai, Francisco seguiu o chamado do Senhor e, aos 18 de dezembro de 1593, foi ordenado sacerdote. Em 1602, torna-se Bispo de Genebra, em um período em que a cidade era fortaleza do Calvinismo, tanto que a sede episcopal encontrava-se "exilada" em Annecy.

 

Pastor de uma diocese pobre e atormentada, em uma paisagem montanhosa da qual conhecia bem tanto a dureza quanto a beleza, ele escreve: "[Deus] o encontrei cheio de doçura e suavidade entre as nossas mais altas e ásperas montanhas, onde muitas almas simples o amavam e adoravam em toda a verdade e sinceridade; e veados e camurças corriam de lá para cá entre os gelos assustados para anunciar os seus louvores" (Lettera alla Madre di Chantal, outubro de 1606, em Oeuvres, éd. Mackey, t. XIII, p. 223).

 

E, todavia, o influxo da sua vida e do seu ensinamento sobre a Europa da época e dos séculos sucessivos parece imenso. É apóstolo, pregador, escritor, homem de ação e de oração; comprometido em realizar os ideais do Concílio de Trento; envolvido na controvérsia e no diálogo com os protestantes, experimentando sempre mais, para além do necessário confronto teológico, a eficácia da relação pessoal e da caridade; encarregado de missões diplomáticas em nível europeu, e de tarefas sociais de mediação e reconciliação.

 

Mas, sobretudo, São Francisco de Sales é guia das almas: do encontro com uma jovem mulher, a senhora de Charmoisy, buscará inspiração para escrever um dos livros mais lidos na idade moderna, a Introdução à vida devota; da sua profunda comunhão espiritual com uma personaliza excepcional, Santa Giovanna Francesca di Chantal, nascerá uma nova família religiosa, a Ordem da Visitação, caracterizada – como desejou o santo – por uma consagração total a Deus vivida na simplicidade e humildade, no fazer extraordinariamente bem as coisas extraordinárias: "... desejo que as minhas Filhas – ele escreve – não tenham outro ideal senão aquele de glorificar [Nosso Senhor] com a sua humildade" (Lettera a mons. de Marquemond, junho de 1615).

 

Morreu em 1622, aos 55 anos, após uma existência assinalada pela dureza dos tempos e pela fadiga apostólica.

Aquela de São Francisco de Sales foi uma vida relativamente breve, mas vivida com grande intensidade. Da figura deste Santo, emana uma impressão de rara plenitude, demonstrada na serenidade da sua pesquisa intelectual, mas também na riqueza dos seus afetos, na "doçura" dos seus ensinamentos que tiveram um grande influxo sobre a consciência cristã.

 

Da palavra "humanidade" ele encarnou diversas acepções que, tanto hoje como ontem, esse termo pode assumir: cultura e cortesia, liberdade e ternura, nobreza e solidariedade.

 

Na aparência, tinha algo da majestade da paisagem em que viveu, conservando também a simplicidade e a natureza. As antigas palavras e imagens em que se expressava soam inesperadamente, também aos ouvidos do homem de hoje, como uma língua nativa e familiar.

 

Fonte:

www.cancaonova.com.br

 

 

publicado por emtudosomenteavontadededeus às 17:44

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